Na maioria das entrevistas que concedeu, Tom sempre denunciou a destruição da mata e da fauna, a contaminação dos rios, lagoas e baías, o envenenamento do ar e a descaracterização das cidades pelo automóvel e pela política de terra arrasada da especulação imobiliária. Era quase uma ideia fixa, mais até do que a música -sobre a qual, aliás, pouco falava para jornalistas. De repente, entre duas frases, Tom desfiava os nomes das diversas espécies de urubu. Ou se queixava: "Outro dia fui ao mato piar um inhambu, e o que saiu de trás da moita foi um Volkswagen". Ou, como num passeio que fiz com ele pelo Central Park, em Nova York, em 1989 -parecia saber identificar pelo nome cada passarinho americano. Mas a paixão pelo Brasil é que era sua seiva criativa: "Toda a minha obra é inspirada na mata atlântica". Conto isso para contrastar com a brutalidade com que Tom era visto nas redações em que trabalhei, no Rio e em SP, durante os anos 70 e boa parte dos 80. Era visto como um chato. "Ih, lá vem de novo o Tom Jobim com aquela mania de ecologia." Ou, diante de minhas repetidas sugestões de uma entrevista com ele, para uma revista que se orgulhava de suas entrevistas: "Não! Tom Jobim é a coisa mais rançosa queexiste!". Ainda não percebíamos que ele estava dando em prosa o mesmo recado que dava nas canções. |
sábado, 6 de outubro de 2012
RUY CASTRO Recado em prosa
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